Dezembro, desde que me entendo por adulta, sempre foi um mês que representou cansaço. 

Cansaço do peso de um ano inteiro nas costas, cansaço do ritmo de consumo frenético que vejo ao redor por conta das festividades, cansaço por conta da correria no trabalho onde geralmente tende-se a ter pressa em fechar o ano, cansaço das pessoas que tem de celebrar, necessariamente-porque-sim as "festas" de fim de ano. Preguiça de dezembro, sempre tive.  

A diferença que nesse 2020 é um cansaço que se arrasta desde março e que não vai acabar magicamente com a virada de ano. É um cansaço diferente, é um cansaço na alma.

Cansaço pela incerteza se vivemos um ano de doze meses ou doze séculos.

Tanta coisa aconteceu e nada parece ter mudado.

Cansaço das asneiras que ouvimos todos os dias seja no lado de cá que no de lá. 

Cansaço da mediocridade das pessoas: do lado de cá, tivemos uma mínima abertura e flexibilização das medidas restritivas decretadas domingo passado em algumas regiões da Itália - leia-se um convite ao consumo da parte do governo italiano, em detrimento aos quase 20 mil casos confirmados diários, as 500 mortes diárias e as quase 70 mil vítimas de Covid, que dá a Itália o recorde europeu de mortes pela doença.

A pandemia ainda não acabou mas as pessoas não poderiam perder a oportunidade de não usar o bom- senso e foram lotar barzinhos, enfrentar filas para entrar nas lojas e aglomerar nos centros das cidades para tirar seus selfies com a decoração de natal. Nos sentimos vivos somente se consumirmos e tirarmos selfies?

Enfim, é dezembro, um mês que sempre foi igual, mas agora mudou. Dezembro não é somente o fim do ano, mas o começo de algo que ainda desconhecemos.

Podemos somente, com cansaço e um pouco mais de paciência, aguardar.