A Persistência da Memória - (Salvador Dali)

Hoje aconteceu uma situação inusitada: meu marido chegou do trabalho com uma carta, me pedindo para traduzi-la do português para o italiano. Um colega de trabalho dele recebeu essa carta do Brasil. Era de um primo distante que escrevia não para esse rapaz, mas para seu falecido pai. O brasileiro que enviou essa carta, era um senhor, tinha pais italianos, já falecidos e escrevia para esse seu tio/primo na Itália.

Na carta, ele se desculpava por não ter escrito, por não ter telefonado, por não ter mantido contato, mas que a vida era sempre tão corrida, que não havia muito tempo livre e que finalmente agora, aos 70 e poucos anos, conseguiu escrever e gostaria de realizar seu grande sonho: ir à Itália  conhecer a terra de seus pais, terra tao amada por eles. Pena que o destinatário da carta morreu há quase 10 anos.

Fiquei pensando em quantas vezes eu também deixei as coisas “para depois”, porque “não tinha tempo” e acabei abafando sonhos e calando vozes interiores que me diziam pra fazer algo pra ser melhor, algo que poderia começar com gestos simples, como escrever uma carta. Ou acordar uma hora mais cedo pra fazer uma caminhada. Ou terminar de ler um livro. Ou fazer as pazes. Ou dar um abraço. Ou deixar de ver televisão ou jogar com o computador e olhar e ouvir de verdade sua mãe, seu filho, seu amigo, seu parente.
Cada vez mais acho que, o que não fazemos hoje porque protelamos, será um possível arrependimento amanhã. 
Porque não, NÃO temos todo o tempo do mundo e pessoas não são pra sempre. Nada é.


P.S: Não respondi a carta, mas se respondesse diria ao remetente que não espere pela ocasião certa. Que venha logo realizar seu sonho de conhecer a Itália. E que este seja o ponto de partida para realizar muitos outros sonhos, enquanto houver tempo. 

"Não tenhamos pressa,
mas não percamos tempo."
José Saramago (1922-2010)