terça-feira, 21 de abril de 2009



Uma noite quente como essa e nenhum espumante na geladeira. Tô cheirando a gordura da salsicha que fritei pra janta, meu rosto suado, tá que é puro óleo e eu já decidi: nada de banho por hoje.

Acabou o espumante e a lâmpada do meu quarto acabou de queimar. Droga.
Preciso parar de esquecer de comprar as coisas de alta prioridade em uma casa, tipo luz e algum tipo de cachaça . Como hoje está calor e eu não suporto cerveja, a cachaça no caso seria um cooler, um espumante, um ice. Um não, vários. Putz, preciso parar de beber.
Meu pai, beberrão de primeira linha, sempre dizia que essas porcarias iriam matá-lo. Dito e feito. Um dia, ele resolveu ir num boteco encher- se de biritas. De tão ruim que era, acabou arrumando uma briga, saiu no tapa com um homem 5 vezes maior que ele e deixou o cigarro cair na mesa de sinuca. O cigarro queimou o feltro da mesa, que começou a pegar fogo. Um velho retardado que tava sentado ao lado, se assustou com as chamas, catou o primeiro copo que viu e tacou em cima. Era cachaça. Ao invés de apagar o fogo, ele ferrou com tudo, o fogo se transformou num incêndio, meu pai que era manco, não conseguiu correr em meio à muvucada e ficou pra trás. Morreu queimado. Pelo tanto de álcool que devia ter no sangue dele, ele deve ter queimado rápido. E o velho retardado, continua vivo, freqüenta o mesmo boteco desde a reforma e conta a mesma história do incêndio toda noite pra quem quiser ouvir.
Bêbado é uma desgraça. Sempre arruma briga, mesmo não conseguindo se agüentar em pé no caso da porrada estancar. Por isso, eu bebo em casa mesmo, assim só eu e minha casa somos os bêbados um do outro. Claro que, dependendo do grau de cachaça circulante, diversos elementos da casa criam vida, mas isso é papo longo... Aliás, meu pai não morreu assim. Aliás, meu pai nem morreu. Nunca o conheci pessoalmente, quer dizer, conheci, mas era bebê, portanto não lembro. Ele sumiu, não quis mais me ver, nem saber da minha existência, então eu inventei essa morte (digníssima!!!) pra um homem tão digno como ele. Edson dos Santos é o nome do homem. Que homem.
Taí. Até que morreu bem. Deve ser uma boa coisa morrer queimado. Não sobram restos para enterrar, dar despesas, fazer funeral e talz.
O calor tá insuportável de verdade. E eu quero uma bebida.
Quer saber? Cansei de escrever. Vou pegar uns trocados em cima da geladeira, dentro da caneca do papai noel e vou sair pra comprar um álcool e uma lâmpada. Ou acho que vou pegar a lâmpada da sala e colocar no quarto.
É isso que vou fazer.
Só espero que minha casa não pegue fogo ou outra zica do tipo. Não quero ter que dormir na rua com esse calor infernal, deve ter muitos mosquitos na rua essa hora.

* texto escrito em algum dia de dezembro de 2008

14 comentários

Como um góle de cachaça....Seco e embreagante!

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Menina, procura um AA... rsrs

Falando sério agora, adorei seu texto... Muito msm... É rico em detalhes e consegue manter o leitor preso também do início ao fim...

Seu blog também é muito legal... Prometo passar mais vezes por aqui...

Um grande abraço...

Túlio Clemente

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Olá...teu blog me apareceu d uma recomendação da comu "Blogueiros Fracassados"
gostei muito do texto.
Vc escreve d maneira peculiar.
parabéns
Paz e Luz

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Pode dar uns goles em mim vez em quando... hehe, você só escreve sobre assuntos do meu interesse... muito prazer!

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E eu que tava com receio de postar isso... até tirei os palavrões excessivos! rs
Obrigada mesmo pelos comments.
Sejam sempre bem-vindos!

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duas vontades após ler seu blog: tomar banho e tomar um gole puro de cachaça.

;)

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Ow,vc escreve muitissimo bem!
Foi a época que eu escrevia assim.
haha!
vc tá de parabéns!
sinceramente!
fazia tempoo que eu não entrava em um blog,e via alguém expressar as idéias de uma forma tão clara, e sarcástica...engraçada e tals..
hehe
parabéns!

http://cogumeloerosa.blogspot.com/

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quando eu fico bêbado, eu fico só. fico com medo de dar trabalho com cuidados e coisas que um bêbado precisa. e realmente é sempre bom beber só em casa.
fiquei com vontade de vinho, martini, coisa de bicha.
bem, quando eu junto dinheiro por aí, normalmente é pra comprar cigarro.
eu quero morrer afogado, e logo em seguida, ser devorado por animais marinhos, existiria algo mais lindo? você passa a vida se lamentando pelas perdas, ganhos desnecessários, vida que não anda pós a monotonia, e no final, morre sem dar trabalho, todo mundo se pergunta onde você foi parar e ainda diverte os peixinhos num banquete quase que imperial, se não fosse pelos rastros deixados pelo cigarro e o álcool em excesso no seu corpo. e, me calo num canto frio de fuuuuuuundo do mar. ó coisa bela!

perdoe por encher aqui, hehe, gostei do seu blog tbm, na verdade, gostei das suas coisas.
um belo final de semana que está por vir.
GRANDE abraço!

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Fora que, se pegar fogo na sua casa o calor vai aumentar.
Gostei do seu modo de escrever e estava acreditando na estória da morte do seu pai.
Obrigada pela visita. Vou acompanhar seu blog daqui pra frente.
Saudações! bjo

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Adorei esse... bem psicológico! Beber em casa é minha recorrência preferida ;)

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HAUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA Ri demais *-*

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Um espumante sempre cai bem. Em noites de calor ou frio, é sempre bom tê-lo por perto. E achei muito digna a morte criada por ti moça.

Post muito bem escrito, prendeu a minha atenção (coisa difícil de acontecer). Não tenha receio de postar suas letrinhas, são belíssimas! Parabéns!

Abraços poéticos,
Janaína de Souza.

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Obrigada pelos coments.
PR, a sua morte postada foi poética, mas poética a la Lispector. rs
Janaína, o seu blog é maravilhoso! Tbm sentia essa dificuldade em me prender a textos alheios, até perceber q o meu blog só era tratado como prioridade por minha pessoa, somente. Isso nos limita, portanto, dou a mesma atenção q daria aos meus próprios textos, aos textos alheios. Acho que é mais realista. Se quero que me leiam... devo ler aos outros, certo?

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O texto está muito bom, envolvente que faz acreditar na morte do pai que no final não morreu.
parece-me uma desabafo.

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