quarta-feira, 15 de abril de 2009



Sentados na penumbra, mãos apoiadas nos joelhos, pensamentos turbilhantes, silêncio quase ensurdecedor, olhos em direção ao chão.
Ela pensava em ir embora dali e e em seu passado amoroso mal-sucedido e temia que o insucesso estivesse se reprisando. O pensamento era único, mas profundo, cheio de lacunas e labirintos.
Ele pensava em mil coisas, pensamentos que faziam curvas em volta de si mesmos, multiplicando-se. Pensava, inclusive, que deveria falar algo, mas temia ser ridículo. Ele tentava entender porquê era tão difícil falar algo que a mente transbordava.

- Então, eu vou embora - disse ela, levantando-se.

Caminhou até a porta. Evitou olhá-lo nos olhos; temeu que o seu olhar não estivesse pedindo para que ficasse.
Ele levantou-se e a puxou pelo braço, abraçando-a ternamente. O abraço se apertara mais e ela entregou-se, fechando os olhos. Mesmo sem vê-lo, ela sabia que ele não estava de olhos fechados.
"Ele é racional demais para se entregar a um abraço", pensou ela.

Ele pensava em como dizer que precisava dela, que a queria por perto, agora e depois, que a sua presença o preenchia, que a sua alegria o contagiava, que ela era o que de melhor havia surgido em sua vida nos últimos tempos.

- Pode ficar mais se quiser. - ele, engasgando e suspirando em seguida. - Assim, se você quiser, claro. Seria legal.- mais um engasgo - Seria legal ter você aqui comigo por mais tempo.

Ela esperava algo mais profundo, algo quase ensaiado, alguma fala novelística. Mas o coração acelerou da mesma forma.
Ele a puxou pela mão e levou-a para a cama. Despiram-se com pudor, com constrangimento e agressividade e transaram ternamente, na penumbra.

Por fim, ambos se expuseram como nunca fizeram antes: passaram toda a madrugada, falando de suas infâncias, suas decepções, suas mágoas, seus medos, seus anseios, suas várias fases de descobertas, amadurecimento, crises, complexidades em geral.
Na cama, nus e com a luz acesa.

4 comentários

adorei seu texto... o final é ótimo, desnudos de corpo e alma. Muito bom! Mulheres sempre a procura de mais... :)

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A sutileza da escrita é muito bonita e aconchegante. E a cena dirigida por suas palavras consegue falar de um silêncio que diz da simplicidade de estar junto com o outro...Gostei muito!

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É, são cenas de uma vida real..

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nossa, liiindo texto .. bem proposto ;))

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