Se lembra quando a gente...

Se lembra quando a gente...

Posted by Nely L. on 09:00 in Pensamentos soltos,

... chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre? Sem saber que o pra sempre sempre acaba? (Por Enquanto- Legião Urbana)

E 2020 finalmente se retirou com toda sua frieza: a frieza do distanciamento, que ainda fazemos e faremos em 2021; das viagens que não puderam ser feitas, e dos abraços que não puderam ser dados.

Viver 2020 foi como estar constantemente confinado em uma sala de espera. Esperamos por tempos melhores, por uma saída, mas ficamos constantemente sozinhos com nosso eu interior, com nossas expectativas frustradas e a nossa absoluta falta de controle sobre tudo, reavaliando nosso modo por vezes alienado de viver, nossas prioridades, planos, sonhos e desejos.

E chegou 2021. E, parafraseando Renato Russo, mudaram as estações, nada mudou. Mas como afirmou o poeta, alguma coisa aconteceu. Está tudo assim, tão diferente...

Que 2021 em algum momento sopre esse vento de mudança de estação e que traga consigo uma brisa leve.

Porque a pandemia não poder ser pra sempre: o pra sempre sempre acaba!

Que continuemos a saber aguardar pacientemente o momento em que as máscaras cairão e darão lugar à abraços, beijos, sorrisos abertos e presença!

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Dezembro-março-cansaço

Dezembro-março-cansaço

Posted by Nely L. on 07:51 in Mil confissões, Pensamentos soltos,

Dezembro, desde que me entendo por adulta, sempre foi um mês que representou cansaço. 

Cansaço do peso de um ano inteiro nas costas, cansaço do ritmo de consumo frenético que vejo ao redor por conta das festividades, cansaço por conta da correria no trabalho onde geralmente tende-se a ter pressa em fechar o ano, cansaço das pessoas que tem de celebrar, necessariamente-porque-sim as "festas" de fim de ano. Preguiça de dezembro, sempre tive.  

A diferença que nesse 2020 é um cansaço que se arrasta desde março e que não vai acabar magicamente com a virada de ano. É um cansaço diferente, é um cansaço na alma.

Cansaço pela incerteza se vivemos um ano de doze meses ou doze séculos.

Tanta coisa aconteceu e nada parece ter mudado.

Cansaço das asneiras que ouvimos todos os dias seja no lado de cá que no de lá. 

Cansaço da mediocridade das pessoas: do lado de cá, tivemos uma mínima abertura e flexibilização das medidas restritivas decretadas domingo passado em algumas regiões da Itália - leia-se um convite ao consumo da parte do governo italiano, em detrimento aos quase 20 mil casos confirmados diários, as 500 mortes diárias e as quase 70 mil vítimas de Covid, que dá a Itália o recorde europeu de mortes pela doença.

A pandemia ainda não acabou mas as pessoas não poderiam perder a oportunidade de não usar o bom- senso e foram lotar barzinhos, enfrentar filas para entrar nas lojas e aglomerar nos centros das cidades para tirar seus selfies com a decoração de natal. Nos sentimos vivos somente se consumirmos e tirarmos selfies?

Enfim, é dezembro, um mês que sempre foi igual, mas agora mudou. Dezembro não é somente o fim do ano, mas o começo de algo que ainda desconhecemos.

Podemos somente, com cansaço e um pouco mais de paciência, aguardar.

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Are you living your dream?

Are you living your dream?

Posted by Nely L. on 12:48 in Pensamentos soltos,

Eis que revirando o caderninho dos manuscritos do blog, encontro um textinho sobre meus medos e desejos, uma espécie de cartinha de mim pra mim mesma escrita em 2010.

Lendo fui me dando conta, assustada, que muitos dos desejos ali listados se tornaram realidade.

Embora sempre tenha pensado que esse pensamento de "busca pela felicidade", cultivado com desenho da Disney e que diz que viemos aqui para ser felizes e realizar nossos sonhos só nos leva a viver a vida em um estado de alienação e manipulação.

"Realizar sonhos" nunca pareceu ser o meu lugar: sempre foi coisa de gente rica e privilegiada. O restante dos mortais está apenas se acotovelando na parte debaixo tentando sobreviver e comendo das migalhas de ilusão que caem dos pratos dos que nos exploram.

Sem mais delongas, eis o texto:

"Falando em medo, eu tenho medo de não ser feliz, ou melhor, de não saber ser feliz. Tenho medo dessa vida e das escolhas que ela vai me oferecer. Ou melhor, medo de não saber fazer as escolhas certas na vida.

Penso que as pessoas que não esperam nem pensam muito sobre a vida são mais felizes que eu.

Vivem anestesiadas e sem pensar muito, apenas andam, ou melhor marcham sem rumo.

Talvez eu devesse viver assim, seria mais simples. Mas não, eu quero mais. Daí me frusto. 

Queria poder viver sonhando, escrevendo, planejando e amando. Queria viajar meio mundo - ou mundo inteiro - com uma mochila nas costas, sem sentir seu peso. Queria viver maravilhando meus olhos e minha vida com culturas e realidades distintas.

Queria viver um romance, real, correspondido, uma paixão intensa, um amor daqueles que tiram o ar.

Queria conseguir ser bem sucedida fazendo algo que gosto. E que a vida me tratasse bem, porque por ela tenho um enorme apreço; ao menos maior que o medo.”

O texto foi profético? Ou desejei tão fortemente que se realizassem e tudo acabou naturalmente se concretizando?

Não sei. Sei que agora mais que nunca creio que vale acreditar que sonhos às vezes se concretizam.

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Receita para criar vida nova

Receita para criar vida nova

Posted by Nely L. on 12:40 in Mil confissões, Pensamentos soltos, Vida na Itália,

Estar em sintonia... fluir.

Abrir os olhos, os poros. Absorver.

Conectar-se com o presente, com o lugar presente, com o presente que é estar nesse lugar, nesse instante: hoje, agora. Estar presente, viver o agora, aqui. Agora. Não o ontem mas o amanhã que se constrói hoje.

Se a Itália é o país da beleza, da arte, da cultura, da dolce vita, dos pequenos prazeres... para que e, sobretudo, por que ir na contramão e buscar o que é feio, duro, o que foi moldado em uma vida passada, concebida em outros oceanos, com a visão de mundo talhada e moldada pelo que era importante naquele mundo, que ficou para trás e já tão distante?

Por isso, em 2015, quando "abandonei" o blog, dei lugar à essa coceirinha na alma e comecei uma "vida" nova.

Sempre em 2015, me permeti começar um trabalho que mexe com minhas melhores qualidades que são comunicar e agregar, onde pude aprender, me integrar e crescer estando em um ambiente multilinguistico e multicultural. Trabalho esse que me abriu portas para outros trabalhos, mais interessantes e desafiadores, onde continuei aprendendo.

Nesse mesmo ano, entrei na faculdade estadual de Milão e comecei a cursar um curso de humanas: sou humana e sempre quis ser de humanas. Cursei Mediazione Linguistica e culturale (applicata all'ambito giuridico, economico e sociale), muito parecido com o curso de Relações Internacionais brasileiro.

A busca não foi por mais um título mas por uma conciliação com um sonho: poder estudar em uma boa faculdade pública, ampliar horizontes e enriquecer minha vida culturalmente. Compartilhei as classes com colegas provenientes de diferentes partes do mundo e pude, finalmente, consolidar meu rompimento com uma área (a da saúde) que me trazia tristeza e frustração.

Entre erros, acertos e tantas dificuldades, com os muitos percalços que estudar integralmente em outra língua e trabalhar contemporaneamente trouxe, cá estou, inciando inclusive uma pós-graduação.

Mais adulta, no momento em um trabalho que considero bacana, mais feliz. Com tantas viagens colecionadas junto ao amor da minha vida, muito mais maturidade, muito mais sabedoria e calmaria na alma.

Dito isto, sigo com tantos outros planos e como Fernando Pessoa, tendo em mim todos os sonhos do mundo.

“Ao acreditar apaixonadamente em algo que ainda não existe, nós o criamos. O não-existente é qualquer coisa que nós não desejamos o suficiente.” Nikos Kazantzakis

 

E me lembro todo dia que isso vale para criar um bolo, um texto, uma viagem, uma vida.

Para criar a vida que se quer viver é preciso se arriscar a desejá-la o suficiente para que ela passe a existir na manhã seguinte.

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O outono dos dias

O outono dos dias

Posted by Nely L. on 06:07 in Mil confissões, Milão, Pensamentos soltos,

Outono por aqui. As folhas se enchem de cor e intensidade antes de se deixarem cair. Tudo quer permanecer. Embora saibam que o fim está próximo, as folhas demonstram a noção mais pura do tempo. O tempo é hoje, amanhã já não estarão mais lá.

Disse um poeta que a primavera é a sexta-feira das estações. Se isso é verdade, seria o outono um belo domingo de sol?

Eu sou apaixonada pelo outono desde que vivo do lado de cá do mundo: amo os belos dias cheios de luz, amo as cores amareladas e alaranjadas das folhas, amo o céu azul e o frio ameno. Outono é charme só. Outono é a hora da espera mas também é hora do fim.

Os fins também tem sua beleza. Fecha-se uma temporada. Fica um vazio. Outra se abre. Sem vazios não há recomeços...

 

O inverno já não me assusta. Aprendi nesse ciclo a respeitar os passos do tempo, a desfrutar dos momentos únicos que só o frio lá fora proporciona. A cada inverno somos chamados a nos recolher e se a hibernação for bem aproveitada, floresceremos todos com a primavera, melhores do que antes.

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Mais um ano se passou...

Mais um ano se passou...

Posted by Nely L. on 16:51 in Pensamentos soltos,

2014 voou!

Explicando meu sumiço pras minhas queridinhas blogueiras parceiras, admito que sim, vim poucas vezes no blog mas escrevi bem mais fora dele.

Confesso que o fato de ter que escrever em um teclado não brasileiro me irrita um pouco, pois gosto de escrever com acentuação certinha. Na verdade, o blog tem sido também uma demonstração do meu eterno sentimento de inadequação. Meu blog tem a mesma formatação desde 2009, é um blog que não passou pelo boom de atualização e fofização dos blogs (não sei onde eu estava nesse período rs), não é um blog atualizado tecnologicamente falando- não sei formatar nada!.
Andei seguindo blogueiras que não me visitavam e achava que meu blog estava sendo rejeitado.
A dificuldade de eu vir aqui também passa por dois sentimentos: o de que eu tenho zilhões de coisas mais importantes e sérias pra fazer e a minha não muito boa capacidade de organizar meu tempo.
Acabo não me permitindo blogar como se deve e acabo sendo ou 8 ou 80 nesse quesito. Ou blogo direito ou não blogo!

Bem, são minhas idealizações influenciando até na "vida virtual".

Um dos desejos pra esse ano é tentar simplificar as coisas. Valorizar o que deve ser valorizado, me colocar onde os interesses sejam recíprocos, não forçar as coisas.

Sei que esse ano passou e eu posso dizer que foi um ano bom.

Fiz planos que não tive tempo de concretizar mas muitas surpresas bacanas aconteceram, venci desafios importantes, por exemplo, finalizei todo o processo de reconhecimento do meu diploma e agora sou 100% registered nurse em solo italiano, teve mini viagens na Europa (Barcelona com o amor e Lisboa all by myself), teve Brasil, teve Yann Tiersen, teve (e tem!) trabalho aos 45 do segundo tempo pra fechar 2014 com bons fluidos, enfim, teve bastante coisa legal.

Me joguei nesse trabalho que é diferente de tudo que já fiz e a experiência tem sido fantástica.
Ainda não sei onde esse trabalho pode me levar mas mantenho a esperança de que sim, eu posso conquistar meu espaço aqui e onde for, porque sou forte e cara, eu mereço meu lugarzinho ao sol.

Claro que tem também todos os pontos de interrogação possíveis acerca da minha vida profissional no sentido de vocação mas tenho uma esperança no meu coração que estou caminhando e me aproximando cada vez mais dessas respostas.

Só tenho o quê agradecer aos céus por esse ano pois foi um ano bom, apesar de "corrido", sensação que eu atribuo ao fato de que estou cada vez mais distante de certas convicções que eu nutria.
Talvez essa aceleração das mudanças internas tenha mexido com a minha percepção da passagem do tempo.

E pra 2015, além de concluir algumas tarefas das inevitáveis listinhas, quero equilíbrio.
Um pouco mais de amor em tudo que eu fizer e paz, principalmente interior.
Assim seja.

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Pequena grande constatação.

Pequena grande constatação.

Posted by Nely L. on 14:50 in Milão, Pensamentos soltos, Vida na Itália,

-texto escrito no dia 05/10/2014 mas atual pois rolou segundo-turno. :)

Hoje fui votar aqui em Milão pela primeira vez. Como se sabe, brasileiro residente no exterior pode participar das eleições presidenciais se houver transferido o seu domicílio eleitoral para o novo país, com a antecedência exigida por lei e através do consulado brasileiro local.

E lá fui eu, no centro da cidade, exercer meu direito (direito imposto quase como um dever, diga-se de passagem) de escolha.

No caminho, ouço brasileiros conversarem no metrô, avisto brasileiros conferindo seus documentos, me divirto tentando adivinhar quem é ou não brasileiro, me abstenho de orientar duas brasileiras que estavam perdidas no metrô* (#soudessas rs), descubro o local de votação seguindo não o mapa mas o instinto da audição, que fica tão aguçado para o nosso idioma quando moramos fora.

Fico pensando em todas as vezes que fui votar na vida e como isso tudo mudou. Antes, era o evento ir visitar o vovô, o almoço de domingo com a família e certamente encontrar ex-vizinhos e ex- colegas de escola do bairro onde cresci e prosear. 

Hoje foi um passeio solitário onde eu me vi totalmente imersa num novo mundo, na imponência e beleza arquitetônica do centro dessa cidade tão elegante e bela. 

E com isso vem aquela sensação de ser um corpo solto no mundo, eu, apenas mais um pequeno grande mundo, inserido ou não, no contexto de um novo mundo tão diferente do que eu estava acostumada e tão maior do que aquele que eu idealizava. 

E caminhando me descubro O entrelace entre as duas cidades, a que eu carrego e a que eu vivo.

O dia hoje estava de um céu azul lindo, típico de uma primavera carioca. E pleno daquelas luzes de outono, típico de um outono europeu. Entenderam o espírito da coisa?

Prossigo caminhando, constatando o quanto Milão é bela, viva, pulsante, o quanto Milão é cor, música, gente, vida. O quanto Milão é mais um pequeno grande mundo, inserida em outro mundo... vejo o quanto Milão sou eu.

Praça San Fedele. 

Milão é música! 

Milão é música! 

Milão é fashion!

Mantra<3 td="">

*P:S: não ajudei as moçoilas porque elas pularam fora do vagão na velocidade da luz e não deu tempo. sou uma boa menina. 

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A Itália é um país racista?

A Itália é um país racista?

Posted by Nely L. on 13:32 in Pensamentos soltos, Vida na Itália,

É sim. Não só racista como também xenófobo. 

Não estou generalizando, afinal, todos os italianos que conheço são gente esclarecida e sei que como eles também tem mais gente assim espalhada pela península. 

Também não estou dizendo que eles sejam intolerantes ou extremistas. 

Você já sofreu discriminação racial ou preconceito? - Não e sim.

Não porque ninguém nunca se manifestou diretamente contra mim, com xingamentos, violência ou algo do tipo. 

E sim porque sofro. Sofro diariamente quando saio de casa e as pessoas me encaram, me olham como se eu fosse um E.T., sofro com os olhares desconfiados dos velhinhos com quem cruzo na rua.

Sofro porque leio coisas horrendas na internet, em páginas no facebook e em comentários em sites e matérias jornalísticas. 

Randy Olson, pesquisador norueguês criou o mapa acima. É a Europa rotulada com a palavra mais associada a cada país no recurso "autocompletar" da busca do Google. Em sua maior parte, as buscas associam as nações a adjetivos óbvios, como "pobre" (Portugal) ou "rico" (Alemanha). Pois a Itália é o único país para o qual sobrou um (des)honroso "racista".
 Fonte:http://www.brasilpost.com.br/gabriel-brust/a-europa-pobre-rica-gay-e_b_4748465.html

Sofro porque vi tudo que aconteceu com a ministra Cécile Kyenge que pelo simples fato de ser negra- e mulher!- não pôde realizar seu trabalho e ser respeitada por suas ideias e foi alvejada com bananas em praça pública e foi comparada publicamente a um orangotango por um colega político, que pasmem, ainda foi apoiado por muitos, sejam jovens ou idosos e continuou ocupando seu cargo, sem retaliações. 

Sofro porque sei que imigrantes que vivem uma vida aqui, tem seu trabalho, pagam seus altíssimos impostos financiando assim toda a corrupção, a máfia, sustentando os políticos mais caros e inúteis da Europa, ao terem seus filhos neste solo, os mesmos nascem sem cidadania e devem ficar assim, sem identidade até completar 18 anos, porque italiani si nasce ma da italiani.  

Sofro porque leio e vejo que cada vez mais aumenta o número de sites que incitam uma Itália livre dos estrangeiros, que pregam que todos devem voltar aos seus respectivos países, que incitam que estrangeiros roubam o trabalho dos nativos, que incitam o racismo.

Esse é um dedo na ferida latente em mim e esporadicamente vem à tona. 

Eu imagino que boa parte da população apenas é contida e não expressa seus preconceitos e que se essa crise econômica agravar, as pessoas vão começar a se rebelar contra nós, indiscriminadamente, já que as condições são favoráveis pois não existem leis séeveras anti-racismo.

O teu cristo é judeu, o teu carro é japonês, a tua pizza italiana, a tua democracia é grega, o teu café é brasileiro, as tuas férias turcas, os teus números árabes, o teu alfabeto latino. E só o teu vizinho é estrangeiro?

Ontem veio à tona, acompanhados de uma vontade de vomitar e um engasgo na garganta que permaneceu até agora após ver um programa na TV chamado Lucignolo onde fizeram uma matéria em que dois atores (um rapaz negro e uma moça branca) saíram pelas ruas de Pádua, fingindo ser um casal de namorados, que andavam de mãos dadas, se beijavam, passeavam pela cidade, entravam em bares para tomar seu café, faziam compras na feirinha e tiravam seus auto-retratos, enfim, agiam como um casal normal. 

Um outro jornalista com uma câmera escondida passava logo após eles perguntando a pessoas aleatórias se eles tinham visto o casal. Salvo algumas respostas sensatas outras respostas foram bem chocantes, de antemão já usando palavras ofensivas contra o rapaz, sem nem saber se o cara era uma má pessoa mas pelo simples fato de ele ser negro. 

Jovens e idosos, diziam que sentiam nojo, que não suportavam ver uma “coisa dessas”, que nunca namorariam  negros, que o cara deveria ser rico- partindo do princípio que um negro não pode ser amado por ser quem é mas tem que ter algum atributo, e depois vinha o discurso que os negros vem delinquir e traficar drogas  na Itália e as negras são prostitutas. Oi? 

Não é verdade absoluta mas ainda que fosse quem estaria por trás de toda essa rede? Os clientes e usuários- brancos e italianos e a corrupção e máfia- bem brancas e made in Italy. 

Curioso é que escolheram um ator super bonito e bem vestido e que bem podia ser um turista ou até mesmo italiano e gente do naipe de um simples vendedor de frutas ou um simples serve-café-no-bar, já se julgava superior ao rapaz simplesmente por ele ser negro.
Ou seja, não importa como estarei vestida, se sou educada, se moro ou não na Itália, se tenho estudos, se venho de um país com boa situação econômica, se falo 3 idiomas... serei apenas uma negra aos olhos desses racistas, e de preferência uma negra que fugiu da fome e dos estupros no seu pobre país africano e que chegou até a Itália ilegalmente, num barco lotado de imigrantes miseráveis. 

Não fiz nenhuma pesquisa bibliográfica sobre a origem e o porquê desse comportamento e dessa mentalidade por parte dos italianos porque penso que racismo é sempre ignorância e burrice então livros não me trariam justificativas. 

Como pode um país detentor de tanta beleza e com um patrimônio histórico e cultural tão vasto ter gente com essa mentalidade? Como pode um país feito de um povo tradicionalmente imigrante e desbravador que já lutou e ainda luta para ganhar seu pão mundo afora ter essa visão tão turva? 

Como pode um país que se declara tão católico ser tão hipócrita e intolerante? (Pergunta retórica...)

Parece coisa de povo incapaz intelectualmente e que vive de aparências, de ufanismo, da vaidade por “possuir” tanto material cultural e a ilusão de ser o umbigo do mundo no que se trata de paisagens lindas e culinária excelente.

Paro por aqui pois o post ficou gigante.

Não, não estou declarando ódio à Itália, nem fantasiando que no Brasil não existe racismo. Nem dizendo que a Itália não continua sendo a bella Itália. 

É que tem muita coisa debaixo do tapete e se tanta gente chega aqui no blog procurando informações sobre casamento na Itália, então é importante informar sobre a realidade também.

Esse blog é cor de rosa mas a escritora é cor de piche e isso na Itália, ainda parece incomodar.

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2013.2

2013.2

Posted by Nely L. on 08:12 in Pensamentos soltos, Vida na Itália,

Tive de fazer a retrospectiva dividindo o ano em dois para não fazer um post gigantesco mas agora percebo que deveria ser mesmo assim: foram dois semestres muito  diferentes um do outro.

A melancolia de inverno, o choque da dura realidade que foi de fato recomeçar a vida em terras italianas, com as lágrimas de saudade do começo do ano, foram dando lugar gradativamente a uma alegria inata, o que eu defino como uma espécie de florescer: a Nely regada de lágrimas do inverno cinza e introspectivo foi criando terreno fértil para crescer na primavera, amadurecer no verão e fluir no outono.  

Julho-2013:

Um abraço que valeu por todo o mês. Mamy completou meio-século de uma história de vida tão linda e eu estava lá! Voltei do Brasil tão leve que já voltei me dando o que fazer: aprendendo a dançar forró em Milão, perdendo o medo de andar de bicicleta, explorando as praias italianas ao lado do querido, vendo show da Gal costa aqui em Milão.

Lovers in Pisa

Lovers in Verona♥

PasseioS: Pit-stop por las calles de Madri: Olé!; Final de semana sob o sol da toscana ( Lucca, Pisa, Montecatini Terme e praia de Marina d Pietrasanta): girassóis, praia, marzão lindo da Itália, montanhas verdes infinitas, vinho branco fresco, torre pendente, muros medievais. Eu meu amor na cidade do amor: Verona! Vandalizando (arte naif, vai! rs) o muro da casa da Julieta e fazendo juras de amor super eterno.

Agosto-2013: 

Verão na Itália é verão na Itália: inesquecível! Melhor ainda se for no sul da Itália, onde a experiência sensorial vai além: alimentar o paladar com o perfume de massa fresca everywhere, identificar o cheiro de manjericão em todos os ares inspirados perto do meio-dia, sentir o gosto de vinho rosé no olfato, o gelato italiano que substitui fácil-fácil a água, ver o mar mais azul que o céu, o por do sol com prosecco dando um benvenuto pra mais uma noite de manifestações culturais, shows, ou simplesmente uma festa dedicada a algum prato tipico ao ar livre.

Fiz outras coisas em agosto, inclusive aniversário, mas NADA se compara a ter conhecido a região da Puglia. O Salento, com seu  sol, seu  mar, seu vento. 

Aquele pedaço de terra que tem a sorte de ser banhado por dois mares limpidíssimos (mar Adriático e mar Iônio) é tão mistico, com suas cores e seus ritmos, que não é que te conquiste: rouba o teu coração e deixa sintomas de saudade pra sempre!

Caribe? Não, Itália mesmo! Maldives Salentine :)

Marina di Camerota

Otranto♥

Porto Selvaggio

Lovers in Otranto

Lovers in Lecce

Passeios do mês: Praias na região da Campania: Marina di Camerota e Piana Di Sant’agostino.

Na Puglia: Galipolli, Maldives Salentine, Porto Selvaggio, Lecce, Nardò e Otranto♥

Setembro-2013: 

O ano letivo aqui começa oficialmente em setembro. Vai acabando o verão, voltam as aulas. Nesse mês teve prova oficial de proficiência em língua italiana, onde eu me joguei e tirei notão-uhul!, teve visita brasileira em terras italianas e lá fui eu receber energia boa com essa querida amiga em Gênova e ver o mar de Portofino. Ah, la bella Italia!

Portofino

Portofino

Passeio do mês: Genova e Portofino.

Outubro-2013: 

Comecei a fazer dois cursinhos totalmente diferentes aqui em Milão: de socorrista profissional de ambulância e de mediação artístico-cultural. 

A Itália começou a me doar uma coisa que se eu tivesse no Brasil, dificilmente teria acesso assim tão fácil: estudar sobre arte e cultura, ter colegas de turma de todos os continentes do mundo e enriquecer com essa bagagem impagável.

Passeio do mês: descobrindo uma Milão jamais vista.

Novembro-2013: 

Teve outono, folhas caindo, cores mudando. Muito café, muita leitura, muitos estudos, testei meu cérebro ao máximo em italiano, estudando 3 coisas diferentes ao mesmo tempo. A prova para validar meu diploma no Ministério da saúde em Roma seria em dezembro. Ansiedade, foco, fé, café foram as palavras desse mês.

Novembro também foi um mês super especial porque eu me auto-libertei. Libertei meus cabelos, naturais e crespos, tão fortes por terem resistido a tantos anos de maus tratos químicos, tão delicados em cada cachinho, tão desordenados e confusos, tão certos para mim. Depois de quase um ano sem passar químicas no cabelo, eu fui pra frente do espelho e me salvei! Foi um processo longo de libertação, de auto-conhecimento, de descobertas, de afirmação de uma beleza tão pura e tão simples como a de se aceitar e ser quem se é.

Teve também realização de um sonho vendo show do Charles Bradley com meu amor :)

Nely versão LIVRE!

Dezembro-2013: 

Foi O mês. 

Teve prova do Ministério da saúde lá em Roma e dessa vez fiz a viagem sozinha, confiando no meu italiano e isso foi simbólico porque  no final das contas percebi que é sempre e somente eu contra ou a favor de mim mesma.

Fui lá e PASSEI! Virei enfermeira em terras italianas também! Dessa vez, o choro foi de alegria, a sensação de leveza de poder voltar a sonhar e de que estudos de uma vida não foram jogados no lixo... Felicidade sem igual!

Teve Natal lá no sul da Itália na casa dos sogros, teve dias lindos de um sol e 20 graus no inverno da Costa amalfitana ao lado do meu amor e com muito limoncello...

Catedral de Amalfi

Auditório Oscar Niemeyer em Ravello 

Positano

Passeio do mês: reencontro feliz com a Capitale e visita no Vaticano para agradecer. 
O sul da Itália mostrou que entende de inverno e me deu dias de temperaturas beirando os 20 graus na Costa Amalfitana: Positano, Amalfi, Ravello (só pra visitar uma obra do Oscar Niemeyer ♥).

Se você leu até aqui, merece um beijo e um verão na Itália! :)

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2013.1

2013.1

Posted by Nely L. on 05:38 in Pensamentos soltos, Rio de Janeiro, Viagens, Vida na Itália,

Estamos em 2014 e eu quero falar de 2013. 

Com certo atraso, admito, mas bem dizem que o ano pro brasileiro só começa após o carnaval, né?
Se disserem algo sobre o ano começar só depois da Páscoa, vou estar inclusive me antecipando. :)

A verdade é que este blog é atemporal e é o que me motiva a escrever, então é justo que eu deixe registrado aqui que 2013 foi um super ano pra mim.

Janeiro-2013:

Neve, frio, calafrios, muitos calafrios. Primeira vez no frio europeu, primeiro casacão modelo pneu mascote da Michelin, primeira vez que vi a neve cair. 

E sabem que eu até gostei? Toda vez que eu abria a porta de casa e encarava aquele frio era como se abrisse a porta para aquela minha Europa idealizada, dos sonhos da mocinha brasileira que achava inverno europeu a coisa mais ficcional e elegante do mundo.
Janeiro também foi o mês que mais me senti fora de orbita. Foi bem difícil.
Chegar do calor de 40 graus do verão carioca direto pra friaca europeia, ter que aprender a comprar roupas que mais parecem armaduras, o choque cultural com o réveillon daqui, somados à a sensação de não pertencer a lugar algum.
O fato de não ter vínculos (amizade, trabalho, etc) nem aqui nem lá doeu bastante nesse mês. Ainda bem que Vincenzo foi bem paciente e esteve sempre do meu lado me amparando.

Passeio do mês: Casertavecchia, pequena cidade medieval no sul da Itália.

Lovers in Caserta Vecchia.

  

Fevereiro-2013: 

Para me lembrar que carnaval é coisa do demo, fui ver muito mas muito mais neve em Livigno, cidade na fronteira da Itália com a Suíça. 

Sabem aquelas paisagens perfeitas, com paredões de montanhas branquinhas de neve? Então, elas existem! E a Suíça é o paraíso delas.

Foi também o mês de voltar a aprender italiano, de fazer amizades no cursinho, de andar com minhas próprias pernas por Milão, de descobrir que é possível ter vida social mesmo com frio, chuva, neve.
Ensaiei dar aulas de português para italianos e fazer voluntariado em hospital, mas não foi muito pra frente por causa da minha pouca segurança com o idioma italiano.

Sambando na neve de Livigno :)

Março-2013: 

Visita brasileira que valeu pelo mês inteiro! Uma amiga da/pra vida inteira que me trouxe uma outra amiga e muito amor, abraços, força, carinho e aquele gostinho de adolescência: papear até altas horas da madruga, gargalhar até a barriga doer... :)

Passeio do mês: Mais uma vez a Bellagio, norte da Itália. Dessa vez com neve no horizonte e amigas brazucas.

A Páscoa mais feliz♥ 

Abril-2013: 

A primavera tardia começou a florescer pelas bandas daqui e com ela um ânimo de vida maior. 

Foi um mês de passeios, estudos, sol, praia, feriados. 

Passeios do mês: Nápoles e conheci algumas praias da região da Ligúria.

La Bella Napoli♥

Maio-2013: Mês da mães (embora nada na tv te faça lembrar exaustivamente disso) e quando eu mais senti falta do colinho da minha mãezona. 

Foi meu primeiro teste em italiano e eu perdi, falhei. 

Para quem não sabe, sou enfermeira e como tal para ter o diploma reconhecido aqui na Itália, depois de toda a burocracia de traduções e legalizações, é necessário se submeter a uma prova de Enfermagem no Ministério da saúde italiano em Roma- tudo em italiano, né?, dividida em etapas teórica e prático-oral – já disse que era tudo (5anos de facul!) em italiano, né?

Então, eu a fiz pela primeira vez em maio e não passei.

Hoje vejo que foi um despertar para uma Nely com mais foco e disciplina, de certa forma mais madura e pronta para encarar as coisas com mais seriedade.

Passeio do mês: Reencontro com Roma, la capitale. 

Junho-2013:

Felicidade tem nome e endereço: Rio, presente do verbo rir.

Chorei de emoção no aeroporto em poder abraçar minha deusa-mãe que tanto amo, cheguei de viagem em um dia, virei anonymous no outro, fui em todos os protestos do Gigante que estava acordando, tomei bomba de gás lacrimogênio e vi o cerco injustamente se fechando contra manifestações legítimas e pacíficas.

Entendi que amigos vão e vem, uns se aproximam, outros se afastam e que dos poucos e bons eu não abro mão.

Passeio do mês: Bérgamo (cidadezinha linda a 30 minutos de Milão) e claro, Rio de Janêro!

O Gigante acordou mesmo?

O que ficou de aprendizado desse semestre: 
1- O começo de uma nova vida nas Zoropa não é nada fácil! 

2- O tempo passa muito rápido quando se muda de país: foi uma avalanche de coisas novas acontecendo, tudo em outro ritmo, lugar e contexto diferentes do que eu estava acostumada desde que aprendi a andar. De pirar ou surtar qualquer um! Me mantive serena.

3- Tem tanta gente querida lá no Brasil que nunca sequer vai sonhar em tudo de bom que eu vi e tenho visto e vivido, em como sair da zona de conforto nos faz amadurecer, o quanto eu enriqueci culturalmente e pessoalmente falando só pelo simples fato de ter me jogado no mundo por (e com) amor. Me afastei de muita gente e muita gente se afastou. Alguns porque não me procuraram, alguns porque não se interessam mais, alguns porque não estão precisando.

4- Sou f#@%a!

5- Sonho com um mundo onde os conselhos gratuitos das pessoas que "se preocupam" comigo sejam somente esses: "Faça o que seu coração mandar e seja feliz". Simples assim. Tititis e abobrinhas sobre o que eu fiz da minha vida ou sobre o que devo fazer, eu dispenso. 

6- Paciência é a chave do negócio. 
6.1- Coragem é a outra chave do negócio. 

7- Não dá pra fazer dieta na Itália. 

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