Que delícia
de filme. Um retrato da realidade que vivemos hoje: pessoas enclausuradas em
seus espaços de concreto, em cidades
cuja arquitetura só contribui ainda mais para o isolamento de todos em relação
a todos. Pessoas que perderam a capacidade de conviver umas com as outras.
No filme,
ambientado em Buenos Aires, Martin e
Mariana vivem a poucos metros um do outro mas não se conhecem e são sufocados
por suas medianeras, traduzindo do espanhol "paredes sem janela".
Desde o
início do filme, percebemos que um foi feito para o outro e ficamos na
expectativa do romance. Eles vivem em busca um do
outro, mesmo sem saberem quem é o outro. O encontro entre os dois realmente só acontece quando eles,
literalmente, se abrem pra isso, permitem que isso aconteça: Martin e Mariana,
no final do filme, representam essa entrega quando “abrem” janelas em suas
medianeras. E, assim, eles se vêem e se descobrem. E se amam.
O mundo
real está cheio de Martins e Marianas. As pessoas, as cidades, o mundo está
cheio de gente fechada, não só pela arquitetura, mas pessoas fechadas em si, em
sua solidão, em seu mundo. Pessoas que foram “construídas” como medianeras,
paredes sem janela, vida sem abertura para o novo.
Afinal, a globalização, os avanços nas telecomunicações, o mundo virtual e todas as suas
redes sociais, de fato, aproximam ou afastam as pessoas?
*Encontrei um link para assistir online e legendado, nesse site, é só clicar.
Estou aprendendo que minha vida de expatriada se torna bem mais
leve e prazerosa graças à internet. Através da minha amiga “net”, tenho visto
filmes, documentários e programas de uma lista que vinha aumentando há algum tempo e se eu estivesse no Rio, certamente não iria assistir nem tão cedo,
por falta de tempo e N outras desculpas.
Esses dias, assisti o documentário a “Janela da Alma”, que me
havia sido indicado em 2011, por um professor do curso express de fotografia
que fiz na Lux Mundi, em Copacabana.
O título da obra remete à citação atribuída a Leonardo Da Vinci,
na qual diz que "Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo”.
A impressão que surge nos minutos iniciais do documentário é de
que se trata de uma abordagem sobre o ato de ver e sobre como determinadas
pessoas que possuem problemas de visão lidam com isso. No entanto, o
documentário vai além, não tratando apenas da visão ou da falta dela. O tema é
desenvolvido de maneira enriquecedora, se aprofundando em uma discussão plural e
abstrata, em que o tema visão é apenas um propulsor para diversas
compreensões de mundo, sejam elas de cunho artístico, filosófico, poético,
científico ou social.
Os depoimentos (de artistas e escritores) são o ponto alto do
filme, que imprimem uma sensibilidade e uma beleza únicas às imagens por vezes desfocadas
do filme.
No youtube tem como assistir o documentário completo:
“O ato de ver e de olhar não se limita a olhar para fora, não se
limita a olhar o visível, mas também o invisível. De certa forma é o que
chamamos de imaginação.”
“Dizemos que os olhos são a Janela da Alma, sugerimos de certa forma que
olhos são passivos e que as coisas apenas entram. Mas a alma e a imaginação
também saem e o que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento.
Nossos anseios,nossos desejos, nossas
emoções.”
Foram duas as primeiras vezes em que abri os olhos para o mundo: quando nasci, numa tarde de inverno, e quando aprendi a ler, numa manhã de verão.
Meu nome é Nely e não tenho do quê reclamar nessa vida.
Este blog é um esforço lúdico para me lembrar todo dia quem eu sou e de onde vim.
É aqui que eu planto o meu silêncio e vejo brotar arte.
É aqui que eu me reinvento.
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“Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido.” - Rubem Braga
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“Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão, escrevo.” - Caio Fernando Abreu
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“Sei que a poesia é o veio mais apropriado para lidar com as memórias que saem aos pedaços.”
“O mundo precisa de poesia- aquilo era crença vital: acredito nos poderes da criação poética para transformar o mundo, acredito na beleza da língua portuguesa." - Poeta Armando Freitas Filho