Uma das
coisas legais de morar em uma cidade grande como Milão é a vasta e acessível oferta cultural disponível.
Em 2 anos morando aqui, acredito já ter ido mais vezes a museus que em toda minha vida no Rio de Janeiro. Sem contar os excelentes shows, muitos destes
gratuitos ou com ingressos a preços módicos.
Eu me
sinto super feliz quando consigo marcar o tão sonhado [X] ao lado de algum nome
da listinha de artistas que eu sonhava em ver ao vivo e que, se estivesse no
Rio, provavelmente ainda estaria sonhando. São as pequenas conquistas que a
Europa me dá, e no final das contas, sábio foi aquele que proclamou que são as
pequenas coisas que valem mais.
Enfim,
depois de Esperanza Spalding, Damien Rice e Charles Bradley (contei sobre ele no blog aqui), semana passada foi
a vez de ver ao vivo o artista Yann Tiersen.
Yann Tiersen é um compositor e multi-instrumentista francês, que toca piano,
acordeom, violino, guitarra, carrilhão, banjo, bandolim, violão, cravo,
vibrafone, baixo, e qualquer outro instrumento que você colocar na mão
dele.
Ele não só toca vários instrumentos, como toca dois ao mesmo tempo.
Yann ficou
mundialmente conhecido pela composição e performance da trilha sonora do filme
“O fabuloso destino de Amélie Poulain” (2001) filme com um roteiro original, com
ares de contos de fadas, ambientado no bairro parisiense de Montmartre.
A
musicalidade desse cara é tão importante pra mim que a música que chorou no
violino na minha ilustre entrada no meu casamento italiano foi a lindíssima “La
valse d’Amélie” que é a trilha da minha vida. Na trilha do filme, disponível na íntegra no Youtube, temos a sua versão clássica (a minha favorita!) em cravo,
acordeom e piano de brinquedo, além das versões em piano e orquestra, cada uma
mais bonita que a outra.
Além
disso, Yann foi importante pra mim durante os meses mais tensos que vivi aqui,
os meses pré-prova de reconhecimento do meu diploma universitário de
Enfermeira. Foram dias frios e cinzas, de leitura intensa, onde café e Yann me
faziam companhia.
Assistir (ou apenas ouvir) o processo de produção de seu cd "La Traversée" (link aqui) me levava a uma espécie de sintonia divina com os deuses da
genialidade. “Quisera eu ser só um pouquinho talentosa e genial como esse cara!
Quisera eu poder fazer algo grandioso uma vez na vida!” - eu pensava.
E entoava esse mantra, movida
pela sua música, que é um bálsamo para alma, uma inspiração para a criação, o que
me encorajava pouco a pouco e no final o resultado dessa dura prova foi
positivo!
Porque
a valsa pode ser da Amélie mas quem a dança SOU EU!
E o tão esperado dia de ver esse cara ao vivo chegou e foi um dos dias mais especiais da minha vida.
O lugar
do show deu aquele toque a mais: Villa Arconati (ou Castellazzo), uma
casa-museu dos anos 1700, patrimônio histórico nacional da Itália por ser uma
obra-prima do estilo barroco do norte italiano.
Foto da internet, retirada do site Wikipedia.
Convido
a quem ainda não conhecia o Yann, a conhecê-lo e se apaixonar como eu, a cada canção.
Deixo esse trecho de um show ao vivo em 2001, onde ele toca três composições que fazem parte da
trilha sonora do filme. A primeira é “A Quai”, em acordeon; a segunda é “Sur le
fil”, em violino, e por último “Le Banquet”, no acordeon e com uma paleta de
violino sobre um vibrafone.
E se a gente todo dia acordasse com a certeza que esse seria o nosso último dia, nossa última oportunidade de viver, nem de ser feliz mas de apenas SER?! Será que a gente deixaria de se preocupar em perder tempo procurando algo que nem sequer existe mais? Como o que ficou no passado, por exemplo... "O tempo voa, rapaz Pegue seu sonho, rapaz A melhor hora e o momento é você quem faz!" Acorda, Nelyyy!
- ... fica a poeira se escondendo pelos cantos. ♪ Fui ao Rio e voltei. Nada de Copa, não vai ter Copa. Nada de princesinha do mar (Copa)- cariocas não gostam de dias nublados. (Eu)Rio. (Eu)Choro. Saudade de casa. Onde é que eu moro? Na prisão da idealização infinita, a saudade me pega em cada esquina. Armários internos precisam ser arrumados, a começar pelas gavetas, dobrando e guardando pequenos e inúteis pensamentos de excesso de passado. Quando é que eu vou aceitar que é difícil "ser" em italiano? Me puno com ausências e lágrimas que não caem; momentos em branco onde o presente é ausente, não se vive, se assiste, se espera- passa. Em branco.
Foram duas as primeiras vezes em que abri os olhos para o mundo: quando nasci, numa tarde de inverno, e quando aprendi a ler, numa manhã de verão.
Meu nome é Nely e não tenho do quê reclamar nessa vida.
Este blog é um esforço lúdico para me lembrar todo dia quem eu sou e de onde vim.
É aqui que eu planto o meu silêncio e vejo brotar arte.
É aqui que eu me reinvento.
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“Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido.” - Rubem Braga
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“Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar. Por essa razão, escrevo.” - Caio Fernando Abreu
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“Sei que a poesia é o veio mais apropriado para lidar com as memórias que saem aos pedaços.”
“O mundo precisa de poesia- aquilo era crença vital: acredito nos poderes da criação poética para transformar o mundo, acredito na beleza da língua portuguesa." - Poeta Armando Freitas Filho